domingo, 27 de julho de 2014

SERÁ DESTA? - Crónica de António Gomes

Será desta?

Há poucos dias, tive a oportunidade de participar na inauguração de um espaço bem no centro da cidade de Torres Novas, destinado à realização de conferências, festas, exposições e de outras iniciativas de índole muito variada. Devo dizer que gostei do que vi. Também tenho verificado, ultimamente, que têm vindo a abrir alguns estabelecimentos no chamado centro, um cabeleireiro ali, uma loja de bebidas acolá, um quiosque mais ao lado, uma bijuteria mais acima, uma loja de antiguidades mais abaixo…

A primeira reação que me ocorre é a de admirar a coragem e a persistência destas pessoas que apesar da duríssima crise que teima em não nos deixar, ai estão para tentar trocar as voltas à resignação.

Mas a coragem demonstrada tem ainda outro significado, muito mais profundo, se atendermos ao estado geral em que se encontra o edificado do centro histórico (sem capacidade de atração), ao despovoamento generalizado desta zona da cidade e também ao valor altíssimo de algumas taxas diretamente relacionadas com estes investimentos. Coragem não lhes falta.

A propósito desta temática, a Câmara Municipal deu esta semana um passo importante que bem pode ajudar a contrariar a situação atrás descrita: foi criado um grupo de trabalho, constituído por técnicos/as da autarquia para congeminar algumas ideias e elaborar algumas propostas que dotem o centro histórico com capacidade de atração, onde se viva com qualidade e se trabalhe, ideias que reforcem o ânimo dos “corajosos” e ajudem à iniciativa daqueles e daquelas que estão na expetativa mas que face à realidade ainda não deram o passo decisivo.

A tarefa é de peso, o desafio é enorme, mas julgo é assim mesmo, é preciso pensar grande, para poucochinho já chega, esta cidade ainda pode dar que falar no que a reabilitação diz respeito. 

Estacionamentos, povoamento, energias renováveis, política fiscal, juventude, animação, cultura, ideias, estou certo, não faltarão. Mas precisamos de estratégia, em torno da qual todas as ideias encaixam.

Deixo apenas um alerta: o segredo do êxito destas iniciativas está na capacidade que a autarquia tiver para construir um projeto, envolvendo os eleitos/as e a cidadania, está na democracia.


António Gomes

terça-feira, 15 de julho de 2014

Turrisespaços - Crónica de António Gomes


Turrisespaços

A empresa municipal tem tido a responsabilidade da gestão e programação do Teatro Virgínia e a gestão dos espaços ligados ao desporto. Julgo que o tem feito bem, particularmente no que diz respeito à programação do Teatro Virgínia. O problema não reside, nem nunca residiu neste ponto. Sempre fui e continuo a ser crítico de empresas, ao lado das Câmaras e financiadas pelas Câmaras.

Mas não basta faze-lo bem, é também obrigatório (lei 50/2012, que pode sempre ser contestada, mas que não me parece razoável optar por ignorá-la) que as receitas próprias cubram 50% do total de despesas em pelo menos 1 dos últimos 3 anos. Se assim não for o Tribunal de Contas recusa o visto prévio do contrato programa acordado entre a empresa e a Câmara Municipal, que o mesmo é dizer dissolvam a empresa.  

Foi o que aconteceu recentemente, as receitas não atingiram o legalmente estabelecido em nenhum dos 3 anos e o TC aconselha a dissolução da Turrisespaços. Pode-se sempre contestar, contrapor, dizer que é uma injustiça, mas o pior de tudo é deixar arrastar o problema e permitir que a Inspeção Geral de Finanças, única e simplesmente mande encerrar a empresa, com as consequências gravíssimas para os trabalhadores e para a programação do Teatro Virgínia.

Agora, enquanto é tempo, é aproveitá-lo bem, preparar a internalização dos serviços e dos trabalhadores, salvaguardar os postos de trabalho e todos os serviços até agora prestados pela empresa municipal. Outros exemplos já existem, (Lisboa, Pinhel) cujos resultados são positivos.

Este é o caminho da responsabilidade, outro é enganar os trabalhadores e os munícipes, prometer o impossível por razões que a razão desconhece, é atrapalhar tudo e entrar num buraco sem fundo.

 

Antonio Gomes

 

 

terça-feira, 1 de julho de 2014

A outra “Praça” - Crónica - António Gomes












 
 
A outra “Praça”

 

Bem escondida e em silêncio, assim tem crescido, vagarosamente, aquilo que se designou por “praça”, bem no meio do centro da cidade. A antiga garagem dos Claras.
À medida que vai crescendo vão aparecendo as suas particularidades: primeiro foi a fachada, tinha que ser preservada, mas com a fachada ficou aquele mamarracho que esconde, primeiro, a dita “praça” e depois a envolvente, todo o casario. Ao invés de facilitar o trânsito e a circulação de pessoas, só dificulta. Ali está ele - o mamarracho de pé e hirto.
Mais tarde vimos crescer as colunas e as vigas de sustentação em materiais que só com muito esforço alguém consegue identificar como adequados e em harmonia com todo o espaço envolvente.
Agora, pasme-se, veio a cobertura, porque a praça é coberta, tipo pavilhão e o que se vê é um telhado com cobertura metálica, ali mesmo no centro da cidade de Torres Novas, paredes meias com o Castelo. Imagine-se uma fotografia aérea….
Como é possível construir-se uma coisa daquelas? Um atentado à harmonia formal e ao edificado envolvente? Cobertura com telhas metálicas?
As praças são por natureza espaços de liberdade, esta “praça” está aprisionada, cercada por todos os lados, não consegue respirar. Esta “praça” precisa de libertar-se, precisa de olhar e ver a outra, logo ali ao lado, apenas com o edifício do antigo quartel dos bombeiros de premeio.
É uma pena aquilo que é para se ver, estar escondido e é uma pena aquilo que é para ser bonito ficar feio e completamente desintegrado do contexto.
 
António Gomes