terça-feira, 12 de agosto de 2014

Reunião CMTN de 06/08/2014 - Turrisespaços - Declaração de voto do BE de Torres Novas



­­­­­­­­­­­­­­­As posições do BE sobre a existência de empresas municipais têm sido amplamente divulgadas e são bem conhecidas. 


Assente na convicção global de que o surgimento das empresas municipais serviram para “evitar” procedimentos da administração pública e permitir “engenharias financeiras”, consideramos que as funções atribuídas à Turrisespaços, E.M., são da competência da Câmara Municipal e podem ser exercidas por ela. 


Quanto à empresa municipal Turrisespaços, sempre fomos muito críticos sobre a sua gestão, baseados na análise detalhada dos documentos contabilísticos e respetiva fundamentação programática, e sempre afirmámos, que o seu futuro, deveria passar pela internalização dos respetivos serviços e dos seus trabalhadores/as.


Não seria difícil imaginar o resultado sobre o pedido de visto prévio para o contrato programa de 2014 solicitado pela Câmara Municipal. Aliás, basta analisar a documentação enviada pelo Tribunal de Contas, para se verificar que a empresa não conseguia cumprir os critérios da Lei 50/2012.


Sobre esta Lei também já dissemos tudo, não a aprovámos e consideramos que ela poderia ser diferente. Sempre defendemos que a solução para empresas municipais deficitárias e endividadas, não deveria passar pela sua manutenção, mas também não poderia passar pela diminuição de serviços públicos, ou privatizações, nem pelo despedimento dos seus trabalhadores/as.


Por isso, fomos claros quando foi conhecida a decisão do Tribunal de Contas: a dissolução da Turrisespaços não pode colocar em causa a programação do Teatro Virgínia, as atividades culturais e desportivas e todos os trabalhadores/as devem ser integrados na Câmara Municipal.


Este propósito é realista e possível. Quer pelas alterações que entretanto foram introduzidas à Lei e que o BE apoiou, quer pelo exemplo de situações muito semelhantes ou mesmo iguais, ocorridas noutros municípios.


Tratava-se pois, de sem demoras, iniciar o processo de internalização da Turrisespaços nos serviços da Câmara Municipal, assumindo uma atitude proativa e não meramente reativa.


A maioria socialista decidiu seguir outro caminho.


Recorde-se que todo o processo e relacionamento com o Tribunal de Contas foi feito sem o conhecimento da Vereação.


Todas as questões colocadas pelo Tribunal de Contas e todas as respostas da Câmara Municipal foram feitas pela maioria socialista e só a ela obrigam e responsabilizam. Pelo que se revela estranha a convocação de uma reunião com o propósito único de colocar apenas à “consideração” desta Câmara Municipal, numa atuação que “solicita” uma eventual posição de “conforto” à maioria socialista, para uma posição que é da sua exclusiva responsabilidade.


O mesmo se diga sobre a resposta ao Tribunal de Contas que agora se debate e que, só nos últimos dias do prazo, é apresentada a toda a Vereação. Não houve um período de discussão aberta sobre todas as eventuais soluções, nem se ponderou em coletivo, de forma transparente e democrática.


A maioria socialista quer dar mais este passo numa derradeira tentativa de manter a empresa municipal, não como ela é, segundo afirmam, mas introduzindo alterações na sua estrutura, devolvendo e solicitando ao Tribunal de Contas uma ponderação que, o Tribunal de Contas, por sua vez, tinha solicitado à Câmara Municipal.

Pese embora o pouco tempo para um estudo aprofundado dos documentos apresentados, deixamos aqui algumas dúvidas, que gostávamos de ver esclarecidas e algumas considerações sobre o seu conteúdo:


1.     Será plausível afirmar que: “(…) a Câmara Municipal de Torres Novas reitera o seu empenho na manutenção da empresa e, em especial neste contexto, o seu interesse em obter o visto prévio do TdC para o Contrato Programa celebrado entre o Município e a Turrisespaços, E.M.” e depois pedir ao Tribunal de Contas que não se pronuncie sobre aquilo a que está obrigado por Lei, mas que se pronuncie sobre uma outra coisa futura, que ainda não existe, mas que é desejo vir a fazer?:


A Câmara Municipal de Torres Novas solicita ao Tribunal de Contas que, no processo de fiscalização prévia em curso, efetue o exercício de ponderar o modelo de reorganização da empresa que propõe e as estimativas e projeções que nele se baseiam, como se estivesse em causa a constituição «ex novo» de uma empresa local, abstraindo, portanto, da verificação atual dos pressupostos do artigo 62.º da Lei 50/2012, de 31 de Agosto.



Ou seja, pede-se ao tribunal de Contas o Visto Prévio para um Contrato Programa estabelecido com uma empresa, que entretanto vai alterar a sua estrutura e, como consequência, o próprio Contrato Programa.



2.     Quanto aos “argumentos de fundo” – Inconveniência social e a inoportunidade económica-financeira de dissolução da Turrisespaços, não são demonstrados, apenas se referindo as parcerias com outras entidades e os “elogios” na comunicação social. 


Em abono da verdade é preciso dizer que os “elogios na comunicação social” devem-se às atividades realizadas, que mereceriam o mesmo elogio, se fossem realizadas pela Câmara Municipal (como aliás outras são – veja-se por exemplo as atividades da Biblioteca e do Museu) ou até, as desenvolvidas por clubes e associações como, felizmente, existem muitas no nosso concelho.


Nunca esteve em causa a atividade da Turrisespaços, mas sim o facto de ser uma empresa municipal e a forma como geriu e gere, algumas atividades (por exemplo o PAPAF, os apelos ao voluntariado, …).


Mas, num esforço teórico, observemos as propostas para a “nova empresa”:

·        Afirma-se no texto que, o Município encomendou “ainda no ano de 2013, um estudo independente e competente que projetasse o futuro financeiro da empresa” – porque é que este estudo só aparece agora, com a data de 1 de Agosto? Se foi solicitado com a devida antecedência, porque não foi considerado na realização do contrato-programa?


·        “A viabilização da empresa depende da transferência dos edifícios, terrenos e equipamentos básicos, afetos aos 5 equipamentos, para o Município. Esta transferência tem um impacto significativo nos subsídios a receber, que é compensado pela diminuição de custos relativos a amortizações e a investimentos com estes equipamentos. No entanto, a Turrisespaços deixará de ter o controlo sobre os imóveis onde as suas atividades são desenvolvidas” (conclusão do Estudo e ver também pág. 4 do texto assinado pelo Presidente).


O que é que isto significa? 


O Município fica com a possibilidade de afetar os edifícios a várias entidades privadas e associações – temos a Câmara a concorrer com a Turrisespaços? Não tem impacto nos objetivos da empresa?


Qual vai ser a tabela de preços dos equipamentos? Haverá preços diferenciados para a Turrisespaços e para as coletividades, por exemplo?


Questão dos subsídios aos Clubes e Associações:

·        Os clubes podem “comprar” serviços à Turrisespaços com o subsídio que recebem da Câmara.

·        Mas a Câmara pode, também ela, “vender” esses serviços diretamente aos Clubes?

·        Vai existir um contrato de gestão dos equipamentos com a Turrisespaços?

·        Prevê-se algum tipo de concessão dos equipamentos à Turrisespaços?

·        As rendas a pagar pela Turrisespaços previstas na página 32 do estudo são anuais, mensais? E implicam o quê?


Em resultado da discussão desta reunião de Câmara e perante todas as evidências apresentadas e dúvidas não respondidas, fica-nos ainda a estranheza, que suscita um dos principais argumentos da maioria socialista, face ao cenário da internalização da empresa municipal Turrisespaços, que se prende com a convicção, expressa, do prejuízo em qualidade, quanto à municipalização das atividades culturais e desportivas de que se ocupa a Turriespaços, E.M., o que é bem revelador da falta de confiança, quer dos serviços municipais e quer do desempenho dos trabalhadores da autarquia, por parte da maioria socialista.


Em conclusão:

A maioria socialista assume alguns erros do passado em termos de relacionamento e gestão da Turrisespaços, mas não tira as consequências devidas e tenta manter a empresa com base num modelo frágil e confuso, que não garante o cumprimento dos critérios da Lei no futuro, pois muita coisa fica por esclarecer e não serve os interesses do Município.


Reafirmamos por isso a nossa posição: - proceder de imediato à internalização dos serviços e dos trabalhadores/as da Turrisespaços, promovendo a estabilidade necessária para que se possam desenvolver as atividades culturais e desportivas já agendadas e futuras.


Por tudo isto, contrariando a imagem de debilidade que o desenvolvimento desta situação tem suscitado, acreditando numa atuação de uma Câmara Municipal convicta, que garanta o presente e o futuro, quer das atividades culturais e desportivas que se revelam de responsabilidade formativa, quer no garante dos empregos dos trabalhadores e, considerando que, a carta dirigida ao Tribunal de Contas não foi enviada, antes da realização da presente reunião, situação que inviabilizaria, em consciência, qualquer tomada de posição a respeito do assunto, 1. Empresa Municipal Turrisespaços, E.M. – processos nºs 219 e 326 do Tribunal de Contas (ASSUNTO 438/14), o Bloco de Esquerda de Torres Novas vota contra.


Torres Novas, 6 de agosto de 2014




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