quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Orçamento de Verdade ou Orçamento “Não definido”?


Declaração de Voto do BE sobre o Orçamento Municipal 2016

Orçamento de Verdade ou Orçamento “Não definido”?

Na análise ao Orçamento Municipal para 2016 uma primeira grande questão se coloca: no Plano Plurianual de Investimento verifica-se que existem verbas inscritas na coluna “Financiamento definido” e verbas inscritas na coluna “Financiamento não definido”.

Consultada a “Lei 60-A/2005, de 30 de dezembro, - Aprova o Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais (POCAL), definindo-se os princípios orçamentais e contabilísticos e os de controlo interno, as regras previsionais, os critérios de valorimetria, o balanço, a demonstração de resultados, bem assim os documentos previsionais e os de prestação de contas, com as sucessivas revisões”, verificamos que a mesma estipula o seguinte:

“7.1 - Nota ao plano plurianual de investimentos 
O plano plurianual de investimentos, para cada projeto ou ação prevista, faculta informação designadamente sobre: 


«Código» com identificação da classificação económica devidamente desagregada;” está conforme a lei.


“«Forma de realização» de cada projeto ou ação;” não consta na proposta apresentada – Porquê? (permite saber se é por administração direta ou empreitada)


“«Fonte de financiamento» de cada projeto ou ação a executar com financiamento externo à própria autarquia local;” não consta na proposta apresentada. Significa que não há obras em 2016 com financiamento comunitário? Por exemplo a verba para o Convento do Carmo está contemplada no financiamento definido – 1.013.815 e financiamento não definido 222.700…

«Datas» de início e fim dos projetos e ações;” está contemplada.


“«Financiamento definido»” para o respetivo ano, que corresponde aos montantes inscritos no orçamento; está contemplada.


“«Financiamento não definido»” a inscrever de acordo com financiamento externo em negociação. 

E citando um acórdão do Tribunal de Contas, em que esta questão é clarificada:

Finalmente, o nº 7.1. do POCAL define a informação a facultar pelo PPI, designadamente a fonte de financiamento de cada projeto ou ação a executar com financiamento externo à própria autarquia local, esclarecendo, em nota à coluna “Financiamento não definido”, que ali se deve considerar o montante das despesas dos projetos ou ações cujo financiamento se encontra em negociação. "


Ficam as perguntas:

Que financiamento externo está neste momento a ser negociado? Como a coluna da fonte de financiamento está em branco, não podemos deduzir que tipo de investimento é:

AC – Administração Central; AA – Administração Autárquica; FC – Fundos Comunitários

No PPI a coluna do financiamento não definido soma 10.759.516 euros.

Destes, sabemos que apenas 503.730 têm lá lugar, pois são as verbas previstas para 2016 dos projetos do PEDU (candidatura apresentada a apoios comunitários no âmbito do Portugal 2020,que não foi submetida a aprovação na Câmara Muncipal).

Pergunto que tipo de financiamento externo está a ser negociado para a verba do “não definido”? Ter este valor, partindo do princípio que a Lei é clara e fala em “financiamento externo em negociação”.

Mas falemos do “saldo de gerência”: a lei não diz que o saldo de gerência pode ser integrado na coluna do “não definido”. Fala sempre em financiamento externo em negociação.

Portanto, permanece a dupla dúvida: é correto fazer desde já contas com o saldo de gerência e incluir no “não definido”, não fazendo referência às fontes de financiamento?

Vejamos os orçamentos anteriores:

PPI 2014 – Não definido – 0

                      Definido – 6 milhões

PPI 2015 – Não definido – 6 milhões

                     Definido – 10 milhões

PPI 2016 – Não definido – 10.759.516

                     Definido – 3. 527.499

Ou seja, inverteu-se a situação – o “Não definido” passa a ser superior ao “definido”.

Hoje, já sabemos, que existe uma previsão de um saldo de gerência de cerca de 3 milhões de euros (à semelhança do ano passado).

Também sabemos que esse saldo existe porque não foram feitas as obras.

Mas, mesmo admitindo a medida criativa de colocar no “não definido” a previsível verba do saldo de gerência, como se justifica a diferença dos montantes?

No PPI temos 10.759.516 – de investimento não definido

Sabemos/deduzimos que  503.730 são do PEDU

Sabemos que 3.000.000 são do previsível saldo de gerência

Sabemos que o Presidente já falou num empréstimo de 600.000

Totaliza: 4.103.730

Como se justifica a diferença: 6.655.738 euros

Conclusão:

Pode haver tanta verba no “não definido” sem saber a sua origem?

Estão a contar com o saldo de gerência?

Onde vão buscar a diferença que ainda resta?

Sobre o Convento do Carmo

Na página 93 do Orçamento, no capítulo “Relatório de Apresentação e Fundamentação da Política Orçamental”, afirma-se o seguinte:

No referente à empreitada da obra “Recuperação do Convento do Carmo”, constata-se o deslizamento da sua execução para o ano de 2016 (cerca de 1.000.000 euros de investimento por realizar).

De forma a manter a sustentabilidade financeira deste projeto, foi complementarmente efetuada uma candidatura ao Portugal 20-20 (FEDER) no âmbito do PEDU – Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano municipal, que integra o Convento, permitindo por esta via sustentar a sua comparticipação financeira do projeto.

Pese embora não existir ainda a decisão formal sobre esta candidatura, a mesma foi acompanhada pela autoridade de gestão da Mais Centro, razão que justifica a consideração em sede orçamental da verba por esta via financiada.

O que é que isto significa?

Perdemos o dinheiro do QREN e agora, esperamos que a obra seja financiada pelo 2020?

Se assim for, é preciso dizer que o PS é responsável por desperdiçar 1 milhão de euros. Recordemos o concurso para a segunda fase da obra, feito de forma a que a Construtora LENA ganhasse e que acabou, e bem, chumbado pelo Tribunal de Contas e fez com que a execução da obra fosse deslizando, para usar a vosso vocabulário do PS

1 milhão de euros no 2020 para o Convento do Carmo, significa 1 milhão de euros a menos para outros projetos.

No entanto, no Orçamento está 1 milhão para o Convento do Carmo na coluna do “definido”. Como assim, se o financiamento não está garantido, como se afirma no texto?

A somar a isto tudo ainda teremos a indemnização da Construtora LENA, no que respeita ao Convento do Carmo, ainda não resolvida!

Mas falemos agora das obras em concreto, que o Senhor Presidente anuncia sempre que estão prestes a começar:

Entre outras:

Calçada António Nunes – 75.000 não definido

Pé de Cão – 220.000 definido + 450.000 não definido

Arranjos exteriores em Casais de Igreja – 50.000 não definido

Pavimentação em Vale da Serra/Rexaldia, Pena e Casal da Pena – 270.000 não definido

Betuminoso para outras obras – 77.500 não definido

São ou não são para fazer? Como é que o Presidente garante que sim?

Na reunião com o Senhor  Presidente, faz hoje oito dias, ao abrigo do Estatuto da Oposição, foi-nos entregue um Mapa, onde consta a verba de 270.000 para as pavimentações na coluna do “Definido”, agora na versão final do Orçamento passou para o “Não definido”. Como e porquê?

Outro exemplo é a aquisição de equipamentos e de material de transporte – 137.500 que na versão que o Presidente entregou à oposição estava no “Definido” e agora passou para o “Não definido”. Esta verba destinava-se a adquirir 1 limpa-sebes; 1 dumper e um camião em 2.ª mão, equipamento em falta no Município.

Desafio o Senhor Presidente a assumir um compromisso, por escrito, sobre as obras que vão ser feitas, com a respetiva calendarização e informação sobre se são por administração direta ou empreitada, a apresentar na Assembleia Municipal. Porque não podemos nem confinar nas informações fornecidas regularmente à Assembleia Municipal, nem sequer naquilo que está inscrito no Orçamento para 2016, pois passou tudo para “financiamento não definido”.

Compromisso mesmo, não a declaração de intenções que expressou na sua declaração de voto, quando da revisão orçamental.

Conclusão: as obras não foram feitas e vão ser sacrificadas pelo pagamento da indemnização à Construtora LENA, no processo Almonda Parque.

E já agora, sobre o que o Senhor Presidente anunciou ontem na AM é preciso dizer que na Rubrica “preservar o meio ambiente” no financiamento definido apenas consta 13.530 euros e no não definido 363.415.

Quanto à eficiência energética nas Piscinas Municipais a mesma situação 194.500 no “não definido”, sem referência a que tipo de financiamento é. E no PEDU não consta nada!

Conclusões:

- O Orçamento deste ano discutido o ano passado, assim como a revisão orçamental, foram distribuídos à Vereação com dois dias de antecedência. Repetiu-se agora a mesma situação. Ora o nosso regimento diz que a documentação para as reuniões de Câmara é disponibilizada com a antecedência de 5 dias. Por maioria de razão, quando se trata do Orçamento os documentos deveriam chegar a tempo de uma análise cuidada. Não é o caso. Espero, sinceramente, que esta situação não se torne a repetir.

- Coluna do “não definido” – cumpre a Lei ou não cumpre?

- O PPI está incompleto – falta a “forma de realização” e a “fonte de financiamento”

O Orçamento deve ser transparente e refletir exatamente o que se vai fazer.

Os altíssimos valores do “não definido”, não  significam compromisso, mas permitem dizer que as obras estão previstas – o que é um artifício e pura demagogia.

Falemos agora dos conteúdos políticos e das opções estratégicas do Orçamento:

Ficámos a saber que existe uma candidatura a fundos comunitários do Portugal 2020 que não foi sujeita ao escrutínio da Vereação e as ações previstas não foram objeto de decisão camarária. Se, agora a Câmara chumbasse ou alterasse o Orçamento (onde essas medidas estão consagradas) como seria?

Acompanhamos algumas medidas, mas temos muito a criticar ao seu enquadramento e questionamos algumas das propostas e outras nem sequer nos podemos pronunciar de tão generalistas que são.

Quanto ao capítulo do “Enquadramento”, queremos deixar claro que não alinhamos com a narrativa sobre o branqueamento da dívida contraída pelo Município – “investimentos sucessivamente realizados…obrigaram à assunção de dívida”, esquecendo as más opções e a má gestão. Assim como a dívida não “foi enquadrada numa operação de saneamento financeiro”. A dívida obrigou a uma operação de saneamento financeiro, à contração de mias empréstimos (PAEL) e a medidas de contração e de limitação da autonomia da Câmara Municipal.

Continuamos a afirmar que o Mapa estratégico está mal elaborado, devendo as prioridades decorrer dos desafios e dos objetivos e devem fazê-lo com coerência, o que também deve ser depois espelhado no Orçamento.

As prioridades: empreendedorismo, qualidade de vida, atratividade do território, solidariedade, enfoque no cidadão e prestar um melhor serviço, concretizam-se em ações cuja alcance não se entende e, repito, não são espelhadas no Orçamento.

Veja-se o exemplo: Melhorar a rede de transportes públicos é a primeira medida do objetivo 2 (município com qualidade de vida) está a 0 no Orçamento.

Criação da “porta norte” do concelho – porque se mantém este objetivo que carece, no mínimo de uma explicação coerente sobre a sua relação com a “perspetiva município empreendedor”, anunciada no mapa estratégico?

Objetivos como recuperação dos rendimentos dos munícipes (e sim tem a ver com a Câmara no que diz respeito aos impostos), nada se diz.

Desburocratização e prevenção da corrupção também não.

E a preservação do meio ambiente, surge de forma tímida e sem o enfoque necessário no Rio Almonda (o que contradiz parte da argumentação de sustentação do PEDU) e no combate aos focos de poluição.

E para finalizar sobre o “Mapa estratégico”, por favor, retire-se a referência a “clientes”. Não somos uma empresa!!

Sobre as verbas para pavimentações e repavimentações, para além das dúvidas que já coloquei no início, continua a não existir uma lista completa e a sua priorização. Se assim continuarmos o parágrafo transita de orçamento para orçamento sem nenhuma consequência.

Sobre as novas instalações para as oficinas e armazém a instalar na zona industrial, afirma-se que “durante o ano de 2016 e seguinte” progressivamente serão reinstalados os respetivos serviços. No Orçamento a rubrica está a zero, nem definido, nem indefinido.

Faz-se referência à Festa da Benção do Gado, mas a verba é repartida entre o definido e o indefenido.

Estamos a discutir um Regulamento de Apoio às Freguesias, mas não encontro nenhuma verba para o concretizar.

Aquisição de equipamento e de viaturas – não se encontra verba, nem definida, nem não definida.

Resumindo:

Como caracterizar este Orçamento?

Retiradas as verbas para os serviços essenciais:

Pessoal – onde convém contemplar a verba para a reposição total dos cortes nos salários em 2016

Educação, Resíduos, TUT, Orçamento Participativo, Freguesias (a delegação de competências), Cultura e Desporto e verbas que apenas permitem a sua manutenção, pois não há espaço para melhorias.

 E acrescentando:

O serviço da dívida, o pagamento ao FAM e a indemnização à Construtora LENA

O que fica?

Vejamos alguns valores em percentagem que dão uma ideia do peso de cada área no Orçamento:

Pessoal – 32%

Serviço da dívida – 14,7%

Convento do Carmo – 4%

Indemnização LENA – 6,69%

Educação – 6,17%

Resíduos – 7,45%

TUT – 1%

Orçamento participativo – 0,80%

Freguesias – 0,75%

Cultura – 1,5%

Desporto – 1%

Promover a coesão social – 0,1%

Provisões Processos em Tribunal (só o previsto para 2016) – 3,48%

Melhorar acessibilidades (Definido) – 2,5%

 

Por último, lamento que as Grandes Opções do Plano não façam nenhuma referência ao acolhimento dos Refugiados.

Registo o que é dito sobre a Resitejo e a necessidade de discutir o tema.

Lamento que a proposta apresentada pelo BE sobre as Taxas Municipais não tenha sido incluída – Redução em 30% das taxas municipais de urbanização para as obras de reabilitação e recuperação de imóveis que se situem fora das Áreas de Reabilitação Urbana, visando criar, por um lado um incentivo à reabilitação de prédios degradados e, por outro, criar um “mecanismo de compensação” para as zonas fora das ARU, promovendo também receitas para a Câmara Municipal.

O voto do BE só pode ser um voto contra, um Orçamento que não é transparente e não garante que no próximo ano sejam realizadas as obras que os/as munícipes esperam e que o desenvolvimento do concelho exigia.

 

Torres Novas, 30 de Outubro 2015

Helena Pinto

Vereadora do BE

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