Os “eu não
voto”
Ainda a expressão da vontade
popular do passado dia 25 de maio, eleições europeias.
Sobre os resultados dos vencedores
e dos vencidos não há muito mais a dizer, mas sobre o querer dos mais de 6
milhões (70%) que não foram expressar a sua vontade nas várias alternativas,
muito ainda se vai dizer e escrever.
A democracia pressupõe a eleição
dos representantes do povo, ora essa eleição foi feita à custa de 30% de resistentes
que não abdicaram do seu direito de escolha.
E que escolha fizeram os 6
milhões de abstencionistas? Penso que esta larga maioria também escolheu. Se
retirarmos 20 ou 30% de abstencionistas crónicos, incluindo aqui a inflação dos
cadernos eleitorais, ficamos com 40 ou 50 % de potenciais eleitores ativos, que
já votaram, que se questionam sobre o destino que querem dar ao seu voto, que
se interrogam e não encontram caminho, estes e estas portuguesas deviam tirar o
sono a muita gente, é aqui que a reflexão deve cair.
Muitos quiseram castigar o atual
governo da direita, que tanta malfeitoria tem feito, mas não encontraram
alternativa e esse é um recado que deve ser entendido principalmente pelas oposições.
Outros, muitos, têm sido
confrontados com um ataque ideológico sem precedentes, sobretudo nos últimos
anos, contra a política, contra os políticos, colocando-os a todos no mesmo
patamar, encobrindo dessa forma os verdadeiros responsáveis pela situação a que
chegou o País. É o populismo no seu
melhor.
A esta ofensiva junta-se outra,
não menos ardilosa: colocar trabalhadores do privado contra trabalhadores do público,
pensionistas contra trabalhadores do ativo, novos contra velhos, pobres contra
“muito pobres”, empregados contra desempregados… Nivelar por baixo os salários,
as pensões, os subsídios de desemprego, nivelar por baixo os direitos, a
prestação de cuidados de saúde, nivelar por baixo as aspirações num futuro
melhor.
Tem sido assim e, diga-se, com
muito êxito por parte dos ideólogos do neoliberalismo. A malta está nessa onda
e o governo é só cavalgá-la. Enquanto isto os BPNs, os BPPs, as PPPs não têm
fim à vista, as fortunas crescem e a malta parece não ver isso. Daqui a não
votar é só um passo, pequenino.
Este é o caldo onde 4 a 5 milhões
de eleitores/as estão metidos e que teve expressão nas últimas eleições
europeias, são os “não voto”, mas eles andam ai e merecem ter toda a atenção.
António Gomes
Sem comentários:
Enviar um comentário