terça-feira, 17 de junho de 2014

Crónica de António Gomes: Os “eu não voto”


 
Os “eu não voto”

Ainda a expressão da vontade popular do passado dia 25 de maio, eleições europeias.

Sobre os resultados dos vencedores e dos vencidos não há muito mais a dizer, mas sobre o querer dos mais de 6 milhões (70%) que não foram expressar a sua vontade nas várias alternativas, muito ainda se vai dizer e escrever.

A democracia pressupõe a eleição dos representantes do povo, ora essa eleição foi feita à custa de 30% de resistentes que não abdicaram do seu direito de escolha.

E que escolha fizeram os 6 milhões de abstencionistas? Penso que esta larga maioria também escolheu. Se retirarmos 20 ou 30% de abstencionistas crónicos, incluindo aqui a inflação dos cadernos eleitorais, ficamos com 40 ou 50 % de potenciais eleitores ativos, que já votaram, que se questionam sobre o destino que querem dar ao seu voto, que se interrogam e não encontram caminho, estes e estas portuguesas deviam tirar o sono a muita gente, é aqui que a reflexão deve cair.

Muitos quiseram castigar o atual governo da direita, que tanta malfeitoria tem feito, mas não encontraram alternativa e esse é um recado que deve ser entendido principalmente pelas oposições.

Outros, muitos, têm sido confrontados com um ataque ideológico sem precedentes, sobretudo nos últimos anos, contra a política, contra os políticos, colocando-os a todos no mesmo patamar, encobrindo dessa forma os verdadeiros responsáveis pela situação a que chegou o País.  É o populismo no seu melhor.

A esta ofensiva junta-se outra, não menos ardilosa: colocar trabalhadores do privado contra trabalhadores do público, pensionistas contra trabalhadores do ativo, novos contra velhos, pobres contra “muito pobres”, empregados contra desempregados… Nivelar por baixo os salários, as pensões, os subsídios de desemprego, nivelar por baixo os direitos, a prestação de cuidados de saúde, nivelar por baixo as aspirações num futuro melhor.

Tem sido assim e, diga-se, com muito êxito por parte dos ideólogos do neoliberalismo. A malta está nessa onda e o governo é só cavalgá-la. Enquanto isto os BPNs, os BPPs, as PPPs não têm fim à vista, as fortunas crescem e a malta parece não ver isso. Daqui a não votar é só um passo, pequenino.

Este é o caldo onde 4 a 5 milhões de eleitores/as estão metidos e que teve expressão nas últimas eleições europeias, são os “não voto”, mas eles andam ai e merecem ter toda a atenção.

António Gomes

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