quarta-feira, 4 de março de 2015

A Democracia está suspensa em Torres Novas? (Assembleia Municipal 27 FEV)


A Democracia está suspensa em Torres Novas?

 
No dia 27 de Fevereiro de 2015, teve lugar, nos Paços do Concelho, a Assembleia Municipal ordinária, que, pela Lei, tem que ocorrer até ao final do mês de fevereiro.

Seria uma Assembleia Municipal normal, para tratar dos assuntos agendados e para debater os temas que os partidos políticos entendessem colocar, assim como questionar a Câmara sobre a sua atividade, exercendo a sua competência de fiscalização do executivo camarário.

Mas não foi uma Assembleia Municipal normal!

No Período Antes da Ordem do Dia (PAOD) o Bloco de Esquerda apresentou, por escrito, três (3) propostas e uma Moção para debate e deliberação. Propostas sobre assuntos do concelho e uma Moção sobre um tema da atualidade política nacional e europeia – Solidariedade com o povo grego e repúdio pela atuação do Governo português.

O Presidente em exercício, José Manuel Trincão Marques, colocou à votação da Assembleia a admissão da Moção e das propostas para debate e votação.

Pela primeira vez, PS, PSD e CDS, assim como os Presidentes de Junta não admitiram as propostas para debate e votação. Não se ouviu um argumento porque é que não se podia debater. Apenas braços no ar para negarem o direito de um partido a colocar a debate os assuntos que entende serem pertinentes. Registe-se que sobre as propostas houve abstenções na bancada do PSD. A CDU votou a favor da admissão.

De forma seletiva e sem argumentação, o PS votou a favor da admissão da última proposta apresentada pelo BE (proposta 3) sobre os registos áudio das sessões da Assembleia Municipal. Significativa foi a afirmação do presidente em exercício. “Eu desta voto a favor”, antes de colocar à votação a admissão da proposta, indiciando que existia um eventual critério de substância na votação que apenas tinha como objetivo admitir ou não admitir.

Mas, vamos por partes:

1 – A Assembleia Municipal é o órgão político por excelência no município, onde o debate político e de ideias devem estar presentes. Não é um órgão para ratificar as decisões da Câmara Municipal.

2 – Torres Novas não é uma ilha e a política nacional e europeia têm impacto direto sobre a vida da sua população e a tomada de posições, pela Assembleia Municipal, aproxima a política das pessoas e promove a participação e a cidadania. Aliás sempre assim foi. São múltiplas as tomadas de posição no passado.

3 – O Regimento da Assembleia Municipal prevê no n.º 3 do artigo 18.º que a assembleia vote a admissão de proposta que não constem da agenda. Faz sentido, pois podem ser apresentadas propostas que precisem de estudo e não devem ser automaticamente admitidas. Mas também faz sentido, como aliás era prática corrente, que sejam admitidas propostas que a Assembleia entende que pode votar – como era o caso das propostas apresentadas pelo BE, pois já tinham sido apresentadas à Assembleia anteriormente no PAOD e Moções que se destinam a tomadas de posição política.

Registe-se, que não se ouviu um único argumento para a não admissão das propostas e da Moção.

4 – O precedente agora aberto é muito grave, do ponto de vista formal e do funcionamento da AM e muito grave do ponto de vista político e do exercício da democracia.

Comecemos pelas propostas do BE:

Proposta 1 – realização de uma Assembleia Municipal temática sobre a descentralização de competências para os municípios na área da educação: assunto que diz respeito à vida dos municípios, que tem mobilizado todos os envolvidos – municípios, Associação Nacional de Municípios Portugueses, Professores/as, sindicatos, diretores de escola, associações de pais e encarregados de educação. Tema da atualidade política. Uma proposta para um debate aberto, envolvendo todos, para promover o esclarecimento, não foi admitida, sem um único argumento. Quem tem medo do debate? Quem foge do esclarecimento? Será que se prepara alguma negociação secreta sobre esta matéria com o Governo e depois se apresenta como facto consumado?

Proposta 2 – Realização das Assembleias Municipais (pelo menos as ordinárias) no Auditório da Biblioteca Gustavo Pinto Lopes para proporcionar melhores condições de trabalho aos membros da Assembleia e para proporcionar que mais munícipes possam assistir. O BE já tinha colocado esta proposta em AM. Foi travada a sua admissão. Porquê? Reunir em melhores condições prejudica quem?

Proposta 3 – Divulgação dos registos áudio das Assembleias na net e envio para o Arquivo Municipal para memória futura. Proposta admitida e aprovada a divulgação na plataforma da extranet municipal e envio para o arquivo municipal. O debate em volta desta proposta também merece reparo, pois todo ele se centrou numa questão que nem devia ser colocada – a legitimidade de divulgar o que se passa na AM, tendo o presidente em exercício chegado a dizer que não se podia fazer gravações das sessões sem autorização. Tudo isto é caricato. Falamos de sessões que são públicas! Portanto, a sua divulgação não está em causa. Aliás, como bem sabemos, são feitos relatos de intervenções pelos jornais, citados entre aspas, que só podem ter sido gravados. Ou os jornalistas estão impedidos de entrar e fazer o seu trabalho? Ou, ainda pior, têm que pedir autorização para fazer o seu trabalho? Numa Assembleia Municipal, numa Assembleia de Freguesia, numa reunião pública de Câmara, na Assembleia da República, os/as eleitos/as sabem que tudo o que fizerem e ou disserem é público e pode ser reproduzido. A questão não está na divulgação da informação, está no acesso a essa mesma informação. Se cidadãos ou cidadãs do concelho decidirem dirigir-se a Câmara Municipal ou à Assembleia Municipal e pedir as atas ou outros documentos, eles têm que ser fornecidos e se não forem esses cidadãos/ãs dirigem-se à CADA – Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos e as instituições são obrigadas a fornecer e ainda pagam uma multa por não o fazer. A questão é outra e é política e sobre transparência: deve ser facilitado o acesso às pessoas daquilo que já é público por natureza. Aliás, convém também dizer que em Portugal, os únicos documentos que não podem ser divulgados – a particulares e a jornalistas – são aqueles que estão classificados como “segredo de estado”, o que não parece ser o caso de Torres Novas.

O ridículo da questão é que as atas estão na net, mas o registo áudio não pode estar. Pode ler, mas não pode ouvir e muito menos ver.

Cada vez mais municípios publicam na net as intervenções, sejam escritas, sejam em vídeo. Utilizam as novas ferramentas para divulgar o seu trabalho, para se aproximarem das populações. Em Torres Novas parece que vamos em sentido contrário. E depois, a maioria PS ainda se gaba do seu lugar no ranking da transparência…

Veja-se os seguintes exemplos:



A assembleia municipal de Lisboa tem um canal de TV próprio.

Não se trata de pedir tanto para Torres Novas, apenas que se inicie o caminho de promover o acesso dos/as munícipes aos documentos e atividades da Câmara e Assembleia Municipais.

De que têm medo os eleitos/as do PS? Uma das obrigações dos eleitos/as é prestar contas do que fazem e isso passa, sem sombra de dúvida, pelos munícipes saberem que intervenções fazem, sobre que temas e como votam.

Por último, a Moção de solidariedade com o povo grego. Ninguém é indiferente à situação vivida na Grécia, após as eleições legislativas de 25 de janeiro passado. As escolhas soberanas do povo grego ditaram uma mudança no seu país com impactos muito significativos na Europa. Nada será como dantes. E esses impactos têm diretamente a ver com a situação do nosso país e dos portugueses. Trata-se, no fundo, de termos uma palavra a dizer sobre como o governo português se comporta e que posições defende no Eurogrupo e na União Europeia. Não podemos, nem devemos ser indiferentes às posições tomadas por Passos Coelho e Maria Luis Albuquerque, posições servilistas e “mais alemãs do que o governo alemão”. Para o Bloco de Esquerda é muito importante fazer este debate e ninguém deve ser afastado dele. Por isso apresentámos uma Moção.

Infelizmente, não existiu sequer um debate sobre a substância política das propostas, não existiu argumentos a favor ou contra. Existiu isso sim, veto de maiorias, que tem muito pouco a ver com democracia. Do PSD e do CDS esperava-se, pois não quer que se discuta a posição do governo. Mas de que tem medo o PS?

Só para informação convém dizer que Moções idênticas foram apresentadas em várias Assembleias Municipais.

APROVADAS moções nas seguintes Assembleias Municipais:

  • LOURES - 18 votos a favor (1 BE, 1 MRPPP, 16 CDU) - 11 contra (6 PSD, 1 CDS e 4 PS) e 9 abstenções PS

  • ODIVELAS - 12 a favor (2 BE + 10 CDU), 14 abstenções (PS), 8 contra (7 PSD+1 CDS)

  • PORTIMÃO - 15 a favor (10 PS, 3 BE e 2 CDU), 8 contra (4 PSD e 4 CDS//MPT/PPM) e 1 abstenção da CDU, por curiosidade o líder da bancada da CDU 

  • LAGOS - maioria PS, o BE tem 1 deputado municipal, aprovada, desconheço pormenores da votação 


Foi ainda aprovada uma importante recomendação de geminação de LISBOA com ATENAS

  • ODEMIRA - 9 a favor (1 BE, 6 CDU e 2 PS), 14 abstenções (12 PS e 2 CDU) e 5 contra - 1 PSD, 1 CDS, 2 PS (incluindo a Presidente da AM) e 1 CDU!

  • PONTE DE SOR - Aprovada com 3 Votos a favor (1 do BE e 2 do PS) e 12 abstenções, 5 da CDU e 7 do PS

Moções REPROVADAS

  • SALVATERRA DE MAGOS - a mesma moção foi apresentada na Câmara e na Assembleia Municipal

AM - 10 contra (8 PS, 1 PSD, 1 MCI)​

         8 favor (6 - BE, 2 CDU)

         5 Abst ( 4 PS, 1 MCI)

CM - 4 Contra ( 3 PS, 1 PSD)

        3 Favor (2 BE, 1 CDU)

  • LEIRIA - 4 votos a favor (1 BE, 2 PCP + 1 ???), abstenção do PS e votos contra do PSD + CDS + alguns deputados do PS, incluindo a Presidente da AM

O Bloco de Esquerda continuará a apresentar propostas sobre o concelho e sobre temas da vida política nacional e internacional. O confronto de ideias e de propostas favorece a participação da população. Não abdicamos deste direito e desta obrigação perante todos os torrejanos e torrejanas.

Ou será que alguém suspendeu a democracia em Torres Novas?

 

 


 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário